segunda-feira, 29 de julho de 2013

Um pesadelo da vida real


            O ponteiro de seu relógio preferido marcou seis horas da manhã.
            Lá estava Paulo fazendo sua barba, estava ansioso para seu novo trabalho, deveria estar lá ás sete horas.Era como se Paulo voltasse novamente para o colegial, depois de duas semanas de férias, como se fosse obrigado a frequentar as mesmas salas de aula, conviver com os colegas, tudo de novo. Nada se encaixava, deveria mesmo ir trabalhar? Não poderia ficar dormindo, sonhando, se distraindo com uma revista velha?Se ele fosse até seu quarto e se enrolasse nas cobertas seria muito melhor, se ele ligasse para sua ex-namorada e pedisse desculpas, ia ser estressante e vergonhoso. Não tinha jeito, não poderia voltar para casa da sua mãe, dizendo que tinha se arrependido de ter saído de casa e muito menos admitir que não passava de um bebê em um corpo de um homem de 25 anos.
A saudade o atormentava, seu sonho sempre foi se formar em Jornalismo, construir uma carreira de sucesso, se comunicar com pessoas. Mostrar o que tinha de melhor, transformar seus poemas, de adolescente ferido, em artigos, em matérias.
Construir uma vida melhor, escrevendo, transformando seu talento em algo que fizesse a diferença, para as pessoas e principalmente para si mesmo.
A faculdade fora motivo de orgulho para seus pais, a formatura foi banhada por lágrimas. Mas tudo aquilo tinha passado, acabado, agora tinha que trabalhar, um arrepio na espinha, tremeliques pelo corpo, um aperto no coração.
Onde estaria aquela garota da escola, sua parceira de trabalhos, inseparável? Ele não sabia. Sentia falta de suas conversas, de seus sonhos de virar a estrela do Rock, onde ela estaria? Quanta besteira, tinham apenas 12 anos, o que saberiam da vida?
Paulo queria estar em casa, na casa onde cresceu, queria estar rodeado pela família e não abandonado no seu apartamento, localizado em São Paulo, queria encontrar sua estrela do Rock, sua melhor amiga, mas ela estava tão distante, Jovana nem se lembrava do menino magricelo, que sentava sempre na sua frente, que adorava literatura e enchia as pessoas de perguntas.
No seu quarto, sobre a mesa junto com seus escritos, estava o telefone, modelo único que seu pai tinha lhe dado, estava tudo como planejado, tudo organizado, ele mesmo limpava seu apartamento ouvindo uma boa música. As suas músicas preferidas, quando tinha seus 16 anos, aquelas que te fazem se sentir em casa, como se nada estivesse mudado.
De súbito, suando frio, Paulo acorda. São duas horas da tarde, olha para o relógio, tendo 16 anos. Depois daquele sonho, mas parecido com um pesadelo, Paulo ficou pensando, lembrando daquelas cenas com 25 anos. Aquele sonho tinha um grande fundo de verdade, não poderia se enganar, ele retratava seus medos, suas inseguranças e principalmente suas incertezas perante o futuro, que estava lhe aguardando e chegando cada vez mais perto da realidade de um adolescente.




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